terça-feira, 26 de março de 2013

-Mamãe?


-Mamãe? – Rompi o véu que me envolvia, que me envolvera durante tanto tempo, que me guardara, que me polira e transformara... Reneguei aquele meu pequeno mundinho, solitário, guardado por mamãe, cuidado e acariciado... Fugi por um instante do aconchego, do escuro, do barulho do vazio e das risadas longínquas de mamãe, da voz de papai, das músicas que embalavam-me... Dos sons do meu coração, dos sons do coração dela... Rompi com minha pequena visão, busquei a luz no final do túnel... Rompi o véu que me guardava, o véu que me educava. – Mamãe? – Eu gritei quando saí... Mas não havia mais ninguém, não havia nada além de luz, não havia nada além de imensos olhos, não havia nada além de sons, não mais corações, mas titaques, mas barulhos de maquinários; não estava mais quente, agora era tudo frio... Havia dezenas de olhares, todos sorriam, falavam coisas que eu não conseguia entender, me passavam de lugar para lugar, me molharam, me envolveram num novo véu – Mamãe? – Eu tentava chamar, mas ninguém me ouvia... – Mamãe? – Eu buscava com o olhar, eu ansiava voltar para onde eu estivera, anelado, cuidado, exortado... – Mamãe? – Fui passado por todos... Até estar ali, ao lado do toque de seu coração, anelado por seus braços, ao ouvir a voz de papai, ao sentir o calor de mamãe... Mas agora, já era hora de partir... Rompi o véu que me envolvia, durante tanto tempo, que me guardara, que me polira, que me transformara e educara... – Mamãe? – Eu disse, mas não mais a achei, agora tinha eu que ser mamãe, tinha eu meu próprio véu... A família.

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